KIM KI-DUK :::: BIRDCAGE INN



A Coréia tem produzido grandes filmes e apresentado alguns dos grandes cineastas da atualidade. Entre eles Kim Ki-duk, famoso principalmente por Casa vazia (Bin-Jip, 2005) e Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera (Bom yeoreum gaeul gyeoul geurigo bom, 2003). Mas a beleza de seu cinema também está presente em títulos menos conhecidos, como é o caso de Birdcage Inn (Paran Daemun, 1998). O filme apresenta uma história comovente, chega mesmo a ser praticamente um dramalhão do Kim Ki-duk, pelo menos dos filmes que assisti do diretor, este é até agora o que melhor se define como filme de gênero, no caso, o drama. O cenário é uma bela cidade litorânea, onde fica a pousada de uma família humilde que faz da prostituição sua forma de renda. O principal conflito do filme está entre as personagens da prostituta e da filha mais velha da família, que envergonha-se do negócio familiar.

O que parece ser o principal diálogo proposto pela obra é a exploração (no caso física, sexual) exercida pela forma como se organiza as relações entre os agentes da sociedade, como também nas relações pessoais. E explora-se o que há de mais belo entre nós, a exploração do desejo e da beleza está em todos os níveis e em muitas de nossas atividades.
A primeira exploração exposta na obra vem da beleza do litoral, da pesca. De lá parecem vir também os peixes, que serão levados para casa, postos encurralados em paredes de vidro para exibirem sua beleza, mas no filme a beleza vem sempre acompanhada de alguma fragilidade, são muitos os momentos em que peixes aparecem à agonizar no chão. A cena inicial já é logo emblemática, além de plenamente linda, anunciando a obra que se desenrolará. Nessa cena uma indefesa tartaruga procura o mar. Ela já foi alvo da exploração, abandonada junto de um aquário quebrado, e entre seu percurso até o mar encontrará a natureza transformada no mundo dos homens, mundo que não é o seu.
Todos eles têm de se adaptar para sobreviver, e embora muitos peixes de estimação agonizem em diversos takes espalhados pelo filme, quase nenhum deles morre, o que também demonstra, dentro da aparente fragilidade, alguma grandeza.




É sobre hipocrisia e sobrevivência, inclusive a sobrevivência daqueles que exploram. O que há de mais belo e comovente nesta obra de Kim Ki-duk é que ele soube odiar conceitos e comportamentos, mas sem odiar pessoas. Assim como no livro Kitchen, da japonesa Banana Yoshimoto, os conflitos se fazem por opor idéias e comportamentos, mas todos os personagens são bons, as vezes cometem maldades, mas mesmo o pior deles será capaz de demonstrar uma beleza interior. Personagens difíceis de se escrever.

Sobre a linguagem cinematográfica, o filme de fato é um dramalhão, como já foi dito, e que eu mesmo assim julguei. Agora isto pode nos ajudar a refletir sobre o que faz desejável que um filme mantenha - a exemplo do estilo a que se refere quando normalmente se fala de "cinema europeu" - uma postura contida e busque manter-se mais insensível a seus personagens e não sucumbir ao erro de amá-los em demasia e assim criar obras exaltadas, o que parece soar como sinônimo de artificialidade àqueles que agem como se acreditassem na possibilidade de uma método crítico capaz de realmente dizer o que é ou não é bom na cinematografia.

A primeira acusação que se poderia relacionar a o tal subgênero "dramalhão" (peculiarmente associado a cultura pop/trash mexicana) é que neste impere o clichê, mas, quanto a isto não se deve nem iniciarmos uma discussão para o caso de Birdcage Inn, que se mantem plenamente contrário a repetição desses tiques do cinema comercial e toma seu rumo seguindo um caminho pessoal, próprio. Outra acusação que serviria para racionalmente excluirmos o dramalhão como possibilidade de linguagem cinematográfica é que este gera artificialidade, mas Birdcage Inn é exatamente o oposto disto, é um filme de critica e debate social (e não posso deixar de ligar com a palavra "política", sim, porque afinal, o filme traz a relação de poder e alienação do trabalho, cerne dos debates políticos entre esquerda e direita e bandeira levantada por tantas guerras pelo século XX).
Por fim poderíamos acusar o "dramalhão" de forçar uma relação superficial entre espectador e personagem, como já li em críticas publicadas em jornais de grande circulação. Neste caso, sim, é verdade. Sendo cinema ficção e suspensão da realidade, toda relação que se crie com os personagens e com a obra é artificial, no sentido de que é produzida, manipulada, indiferente se o diretor busca impor está relação ou não. É um jogo: você aceita as regras, suspende o real e participa. 

Eu, particularmente, não veria sentido no cinema, se o tempo todo não permitisse que ele me tocasse, me fizesse amar as pessoas dos filmes e querer saber o que elas fizeram depois dos créditos finais. Alguns filmes, como "Rec" são incríveis justamente por sua capacidade de produzir medo. Este porque transpira amor, dentro de toda adversidade. E para chegar a este resultado, Kim Ki-Duk provavelmente amou seus personagens antes de nos pedir o mesmo.




1, 2, 3, CHECANDO...
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Ah ah ah ah mic check ah ah ah ah
Can you hear me?
Can you hear me?
Mic check ah ah mic check ah ah mic check ah ah mic check mic check ah ah
Mic check mic mic check ah ah mic check mic check ah ah mic mic mic
Check ah ah mic check mic check ah ah mic check mic mic check ah ah mic check
Mic check ah ah mic check mic mic check ah ah mic check mic check ah ah
Mic check ah mic mic check mic check ah ah mic check mic check mic mic check
One,
two,
three,
four (vox voice)
Echo, echo, echo, echo
Reverb


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Mic check mic mic check ah ah mic check mic check ah ah mic mic mic
Check ah ah mic check mic check ah ah mic check mic mic check ah ah mic
Check mic check ah ah mic check mic mic check ah ah mic check mic check
Ah ah mic check ah mic check mic mic check
Can you hear me?
One,
two,
three,
four
Start, start, star t
Cornelius (Mic Check)

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